ARTE FEMENINA

ARTE FEMENINA

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A GRUTA



O esplendor que poisa calmamente sobre o mar. E
- que entre duas pedras erguidas numa relação e equilíbrio
onde tudo é medido – quase me cega a perfeição como o sol olhando de frente. Mas logo as águas verdes na sua transparência me diluem e em mergulho toca o silêncio azul e rápido dos peixes. Porém tanta beleza não só é solene mas inumerável. De forma que vejo o mundo nascer e se criado. Um enorme peixe vermelho diante de mim que nunca antes o imaginara. Limpa a luz e o brilho dos rochedos. È igual a um sonho lúcido e acordado. Sem dúvida um novo mundo me pede novas palavras, porém é tão grande o silêncio e tão claro e transparente que muda a cor do meu rosto na superfície das águas lisas como o chão.
As imagens que atravessam os meus olhos, caminham para além de mim. Talvez vá ficando igual á armadilha da qual os pescadores dizem ser apenas água.
Estarão as coisas deslumbradas a ser elas? Quem me trouxe a este lugar? Grita a vaga no interior da gruta rouca e a maré retirando deixou redondo um quarto de areia e pedra. No centro da manhã, no circulo do ar e do mar, no alto penedo, no alto da coluna mantida a frescura branca do mar. Desertas surgem as pequenas praias. Eis o mar e a luz vistos por dentro. Terror e perturbação da secreta habitação cheia de beleza, terror de ver o que nem os sonhos ousariam, terror de olhar de frente as imagens mais límpidas que o meu próprio pensamento. Julgam ser os meus ombros cercados de água e plantas roxas. Atravesso pontas de pedras bicudas onde a arquitectura do labirinto paira roída sobre o verde. Colunas de sombra e luz suportam o céu e a terra. Esse silêncio que rodeia a sala

de água onde os meus dedos tocam a areia rosada do fundo. Abro os meus olhos na tranquilidade límpida e verde onde rápidos, rápidos fogem de mim os peixes. Arcos enormes e redondos suportam esta grande gruta mantida de claridade e espaços imaginários. Os palácios do rei do mar escorrem luz e água. Esta manhã é igual ao principio do mundo e aqui venho eu ver o que jamais se viu.
O meu olhar é liso como o vidro. Sirvo para que as coisas se vejam.
E eis que entro na gruta mas o interior é o mais sombrio das coisas imaginárias, dos seres mais profundos e luzidios que se encontram escondidos no passado. Eu queria poisar como uma flor sobre o mar desse meu amor. Queria que contivesse o para sempre o circulo de espanto das musas. Aqui num liquido sol fluorescente e verde que interrompe o abismo de abrir suas portas.
Mas já no exterior do mar a luz rodeia a balança.
A linha das águas limpas como um vidro.
O azul do mar que predomina nessa imensa glória matinal. Tudo está vestido solenemente de nudez.

E ali queria eu chorar de gratidão com a cara encostada contra as pedras.

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