ARTE FEMENINA

ARTE FEMENINA

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SER POETA É SER MAIS ALTO


Ser poeta é ser mais alto, é ser o maior
Do que os homens! Morder como que beija!
É ser mendigo e dar como que seja
Rei do reino de Aquém e de Além dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer quem se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja.
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede do infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

POVO SEM NOME


Povo sem outro nome à flor do seu destino;
Povo substantivo masculino,
Seara humana à mesma intensa luz;
Povo basco, andaluz,
Galego, asturiano,
Catalão, português,
O caminho é saibroso e franciscano
Do berço à sepultura;
Mas a grande aventura
Não é rasgar os pés
É chegar morto ao fim;
E nunca, por nenhuma razão,
Descer do chão
Duro e ruim!





Miguel Torga

[S.Martinho de Anta, 1907 – 1995]

COM AS MÃOS SE FAZ A PAZ


Com as mãos se faz a paz e a guerra.
Com elas tudo se faz e desfaz.
Com as mãos escreve-se um poema – ergue-se a terra.
Com as mãos guerra e a paz se faz.



Com as mãos se rasga o mar. Com elas se lavra.
Não são de pedra estas mãos. É o fruto da palavra as mãos
que são canto e são armas.

Com elas crava-se no tempo
as mãos que vês nas coisas transformadas
De folhas que só o vento leva.



Das mãos cada flor cada terra.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tua mãos começa a liberdade.






segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas, sem rosto
Quando a noite cai em desgosto;
Palavras que se recusam
Ao muro do teu gosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas e desesperadas
Como poesia e amor.

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
No silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SOLITÁRIOS


Solitários são os poetas
Poetas nus em sangue
Que a presença das coisas devastou;
Gestos e formas de escrita
Onde o destino por aqui ficou.

AMANHECER


Eu em tudo te vi amanhecer
Mas nenhuma presença te cumpriu
Só me ficou o resto que subiu
Às mais longínquas fontes do meu ser.

ESPERANÇA


A minha esperança mora
No vento e no cantar das sereias
No azul modesto e profundo
Como o lírio das areias.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

TERRA E ASTROS


Entre a terra e os astros, perfume intenso,
De silêncio, lua cheia
De vertigens de mar e areia.
Amor que ainda se encontra suspenso,
Nessa imensidade de tensão,
Que faz ferver meu coração.






domingo, 7 de fevereiro de 2010

ONDAS

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim,
Tão fundo e intimo como a voz
Que segue no secreto bailar do sonho.
A tua beleza aumentava quando estávamos sós
Ao longo de uma encosta suspensa,
Numa continua exaltação
De alegria e paixão.

ROSAS


Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Toda a fantasia das tardes luminosas,
Que o vento sopra sem ver
A doçura amarga dos poentes,
Que quero ver crescer.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

GRANDES PRAIAS


Nu me banhava nas grandes praias lisas
Outros se perdiam no repentino azul dos temporais.

LUZ,SOL E PINTURA

Luz, sol e pintura
Sobre o telhado à noite a lua cresce
Abro os olhos como um barco pelas ruas
Que noutro dia amanhece.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

POESIA DE INVERNO


Poesia de inverno: poesia escrita com alegria e sentimento
De cuidadosas palavras que brilham num só refrão.
Poesia de palavras envergonhadas,
Poesia de problemas vividos,
Poesia de sonhos arrependidos,
Que as usaria escrever.
Poesia sentida transformada em frases
Coisas que já foram passadas
Que nunca mais serão vividas.

LUA CHEIA

Quase lua cheia que baixa sobre o mar
Magnético e brilhante como panos pretos na noite
É então que acordamos nas margens do silêncio
E sentimos toda a sua cor de bronze
O bater do seu coração
Efervesce-nos o sentimento e respeito
De calma e simpatia pela sua ondulação.

ERAS BELA

Eras bela como a pintura da tela
Onde cada coisa mostra nítida atenção
Do olhar sublime da eternidade
Que cresce no fundo desse coração.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

POETA CLÁSSICO

Um poeta clássico
É aquele que faz da ausência um sentimento
Um poeta clássico
Combate e esculpe uma mulher
Um poeta clássico
Sofre mas não deixa sofrer
Nesta vida que estamos a viver.

CARINHO E AMIZADE


Pudesse eu conhecer e fluir
O carinho e amizade
Reter no teu corpo a saudade
Densa de silêncio puro
Das ondas que batem na areia
Do mar misterioso e antigo
Como um jardim nocturno de paixão e perfume

JANELAS


Janelas abertas com vista para o mar
Ó mãos poisadas nesse parapeito antigo
Que agita pensamentos e sentimentos
Que julgas um dia amar.
Os ramos nus e negros se cruzam
Sob o íman dum céu lunar e frio
Que persegue o teu presente
Que já mais se encontra escondido.

NUDEZ

Na nudez da luz cujo interior é o exterior
Na nudez do vento que tu tocas e rodeias
Na nudez marinha que duplica o sal
De um amor sentimental.